O cenário é a cidade de Patos, na Paraíba, onde está havendo uma roda de violeiros. Um jovem cantador metido a besta, que já havia levado uma surra de viola e de improviso de Dimas e Lourival Batista, ambos irmãos de Otacílio, desafia nosso mestre deturpando os fatos:
“Dei em Dimas e Lourival
só falta agora você…”
Pra que? Otacílio, que nunca embatucou diante de qualquer adversário, lançou, no ato:
“Desde o A até o L
o que tiver se disponha.
Dimas já deu-lhe uma surra,
Lourival lhe fez vergonha.
Por isto eu não levo em conta
cantador meia coronha…
Otacílio era bom em versos desse tipo:
“Admiro o vagalume
Voando ao morrer do dia.
Desafiando a ciência
Que o homem na Terra cria.
Com um pisca-pisca na bunda
Sem precisar bateria.”
Mas, se ele era bom nos versos ferinos, engraçados e provocantes, era bom também no que há de mais profundo desse bom povo nordestino: o amor e o respeito a seus semelhantes, sejam eles pobres ou ricos, como demonstra nesses versos feitos na hora, quando, na cidade de Mossoró, lhe pediram que homenageasse a Dix-Sept Rosado Maia, governador potiguar, que havia falecido em desastre recente:
“Dix-sept Rosado filho
do Rio Grande do Norte.
Sua matéria está morta
mas seu espírito é tão forte,
que talvez até esteja
zombando da própria morte.
“Para o mundo foi um corte,
que a mão de Deus fazer quis.
Pra família foi um mal,
pois essa alma feliz,
não queria ver seus galhos
chorando pela raiz.
“Rio Grande em peso diz,
contemplando a sepultura:
Inesquecível Rosado
o teu nome em nós fulgura!
Como a estrela mais brilhante
de luz infinita e pura.
“A morte é sempre surpresa
seja de qual modo for
principalmente num homem
honesto e trabalhador.
Amigo leal dos pobres,
do seu povo, defensor!
Era simples como a flor,
que se encontra na floresta;
cada olhar para um sorriso,
cada sorriso uma festa!
De sua simplicidade
Somente a saudade resta.
O homem marcha somente
para as portas do jazigo.
A morte marca o encontro
de lhe jogar no perigo.
Os ruins, pouco ela quer,
mas os bons, leva consigo.
A morte conduz consigo
certos caprichos sem fim.
Tem levado tanto Abel,
deixando tanto Caim.
Para quem é justiceira
não devia ser assim.
Este poeta popular, o terceiro dos irmãos Batista, por sua voz vibrante e forte foi apelidado de Uirapuru, deixou diversos livros publicados, entre eles “Poemas que o povo pede” e “Antologia Ilustrada dos Cantadores”, este em parceria com Francisco Linhares.
Cantadores como Dimas, Lourival e Otacílio Batista Patriota, engrandecem a poesia popular brasileira e nos ajudam a compreender a alma deste imenso País.
* Fonte de pesquisa: folclore nordestino, Internet e a obra do escritor, poeta e pesquisador cearense Raimundo Araújo.
Nossas homenagens a Miguel Torres, Roteirista e ator cinematográfico, que me ajudou a compreender melhor nossa gente.
Autor: Braz Chediak