Quando publicamos a matéria DESAFIO, recebemos diversos E-mail’s perguntando quem eram os irmãos Dimas e Otacílio Batista, tão elogiados pelo grande Manoel Bandeira.
Na verdade, os irmãos cantadores eram 3. Dimas, Otacílio e Lourival.
DIMAS BATISTA PATRIOTA, natural de Uburanas, depois Italetim, município de São José do Egito, Pernambuco, nasceu em 17 de julho de 1921 e teve repercussão nacional quando cantou no Palácio do Catete, Rio de Janeiro, para o então Presidente Eurico Gaspar Dutra e deixou de bocas abertas a intelectualidade e os políticos da época.
Com um belo timbre de voz, melodiosa e forte, Dimas, não conseguindo sobreviver de sua Arte, abandonou a viola, casou-se, entrou para o comércio e fixou residência em Ibicuipeba, Ceará.
Dimas foi descoberto por volta de 1946, pelo então acadêmico de direito ARIANO SUASSUNA, na Fazenda de Várzea Grande, Limoeiro do Norte, que o convidou para glosar o querido, respeitado e grande brasileiro JOSÉ AMÉRICO DE ALMEIDA com o mote ZÉ AMÉRICO DE ALMEIDA O SALVADOR DO SERTÃO. Dimas Batista aceitou o convite e eis o resultado:
Trinta foi ano inconstante
não houve nem fruta peco,
trinta e um foi quase seco,
trinta e dois foi torturante
tostava a face no chão,
surgiu, por Deus, um cristão
combatendo a labareda:
Zé Américo de Almeida
o salvador do sertão.
Pois, este logo depois
dirigiu um Ministério:
Não mais faltou refrigério
na seca de trinta e dois.
Bacalhau, jabá, arroz,
farinha, milho, feijão
mandou pra população,
até chita, mescla e seda
Zé Américo de Almeida
o salvador do sertão.
Matando a nudez e a fome
da pobreza sertaneja
é justo que honrado seja
pra sempre o seu santo nome.
Que onde ele chega, some
toda espécie de aflição.
Glórias mil muitas lhe dão
e outras mais Jesus conceda
Zé Américo de Almeida
o salvador do sertão.
Vaqueiros e caçadores,
Tangerinos, boiadeiros,
lenhadores e tropeiros,
marchantes, agricultores,
romeiros e cantadores
desta inculta região
conservam lembrança leda:
Zé Américo de Almeida
o salvador do sertão.
Dimas Batista era mestre também no quadrão trocado, um dos gêneros mais difíceis da poesia popular. É dele o que se segue, com doze sílabas, com trocadilho “de traz pra frente, do quarto verso, daquilo que foi dito no terceiro e assim por diante até o final de cada estrofe, que são de oito pés.”, recolhido por Raimundo Araújo, escritor, poeta e pesquisador cearense:
“É no sangue, é no povo, é no tipo, é na raça,
é no riso, é no gozo, é no gosto, é na graça;
é no pão, é no doce, é no bolo, é na massa;
é na massa, é no bolo, é no doce, é no pão;
é cruzado, é vintém, é pataca, é tostão;
é tostão, é pataca, é vintém, é cruzado;
é quadrão, é quadrinha, é quadrilha, é quadrado;
é quadrado, é quadrilha, é quadrinha, é quadrão.
“É na corda, é na ponta, é na volta, é no laço;
é no pulo, é no salto, é no chouto, é no passo;
é na unha, é no dedo, é na mão, é no braço;
é no braço, é na mão, é no dedo, é na unha;
é no brado, é no grito, é na voz, na canção.
Na canção, é na voz, é no grito, é no brado;
é quadrado, é quadrinha, é quadrilha, é quadrão;
é quadrão, é quadrilha, é quadrinha, é quadrado.
É no leste, é no oeste, é no sul, é no norte;
é no pouco, é no muito, é no fraco, é no forte;
é no berço, é na cova, é na vida, é na morte;
é criança, é menino, é rapaz, é ancião;
é estado, é cidade, é distrito, é nação.
é nação, é distrito, é cidade, é estado;
é quadrão, é quadrinha, é quadrilha, é quadrado;
é quadrado, é quadrilha, é quadrinha, é quadrado.
É pato, capote, é peru, é galinha
é no caibro, é na ripa, é na telha, é na linha;
é salão, é saleta, é despensa, é cozinha;
é cozinha, é despensa, é saleta, é salão.
É alpendre, é latada, é bodega, é pensão,
é casebre, é palácio, é castelo, é sobrado;
é quadrado, é quadrinha, é quadrilha, é quadrão,
é quadrão, é quadrilha, é quadrinha, é quadrado.
É no grito, é no assombro, é no susto, é no medo,
é na noite, é no dia, é na tarde, é no dedo;
é na briga, é na queixa, é na intriga, é no enredo,
é espada, é cacete, é punhal, é facão.
É revólver, é pistola, é bofete, empurrão,
é cadeia, é sentença, é juiz, é soldado;
é quadrão, é quadrinha, é quadrilha, é quadrado,
é quadrado, é quadrilha, é quadrinha, é quadrão.
Como vemos, DIMAS BATISTA foi um mestre e esse quadrão trocado, nos fez lembrar o ritmo poético da belíssima “Águas de Março” do grande TOM JOBIM: “É pau, é pedra, é o fim do caminho, é um resto de toco, é um pouco sozinho…’
É dele, também, este soneto homenageando a viola:
A VIOLA
Velha viola de pinho, companheira
De minh’alma, constante e enternecida,
Foste tu a intérprete primeira
Da primeira ilusão da minha vida.
Eu, contigo, cantando a noite inteira,
Tu, comigo9, tocando divertida.
Sorrias, se eu louvava a brincadeira,
Choravas se eu cantava a despedida.
Nas festas de São João, nas farinhadas,
Casamentos, novenas, vaquejadas,
Divertimos das serras aos baixios.
Perlustrando contigo pelo Norte,
Foste firme, fiel, feroz e forte,
No rojão dos ferrenhos desafios.
Se você quer conhecer também LOURIVAL BATISTA e OTACÍLIO BATISTA, irmãos de DIMAS e cantadores geniais, continue acessando nosso Site.
* Fonte de pesquisa: folclore nordestino, Internet e a obra do escritor, poeta e pesquisador cearense Raimundo Araújo.
Nossas homenagens a Miguel Torres, Roteirista e ator, grande conhecedor do folclore, que me estimulou a estudar as coisas brasileiras.
Autor: Braz Chediak