As folias de Reis, herdadas dos colonizadores, hoje mescla das tradições européias e indígenas, vão de 23 de dezembro a 6 de janeiro, período em que seus participantes comem, bebem, cantam, percorrem as ruas, entram nas casas pedindo esmolas, ou procuram algum presépio, numa manifestação de alegria e religiosidade que é uma constante em nossa
Mas os preparativos para a folia começam bem antes, quando crianças e mulheres colhem areias, cascalho, terra vermelha, tabatinga e flores que desidratam para enfeitar os presépios. Às vezes o algodão serve de neve e as figuras – bois, burros, carneiros, camelos, os Reis Magos, a Virgem, São José e o Menino Jesus, de louça ou, nas mais tradicionais, de madeira talhada a mão – são coloridas com as cores primárias. Há também a estrela guia, com sua cauda de papelão e purpurina, iluminando o caminho para Gaspar, Melchior e Baltazar, os 3 Reis Magos.
As folias, às vezes, diferem entre si, de lugar para lugar. Maria Eremita de Souza, professora e pesquisadora no Serro, em artigo publicado no jornal Estado de Minas, diz que no terreiro das casas onde há a folia está “em destaque o Cruzeiro enrolado em papel de seda colorido e em um dos braços a esmola de oferta dos donos da casa.” E Badias Medeiros, no livro Tocadores, homem, terra, música e cordas, de Lia Marchi, Juliana Saenger e Roberto Corrêa (Edição Brasil 2002), diz que a folia de Reis “… não pode ter cruzeiro. Que o cruzeiros foi depois da crucificação de Jesus que foi que aconteceu o cruzeiro. A folia de Reis é só nascimento, visita, a viagem dos três Reis, a estrela-guia.”
Os versos cantados também variam de região para região ou de grupo para grupo. Carlos Góis coletou estes no estado do Rio de Janeiro, por volta de 1914:
“Ó senhor dono da casa,
recebei esta bandeira,
faça favor de entregá-la
a quem tem por companheira.”
Maria Eremita registrou estes, no Serro, possivelmente na década de 90:
“Senhora dona da casa
Aqui estão estes pastores (bis)
Vieram anunciar ai, ai, ai, ai (coro de todos)
Que nasceu o Deus de amores
Ó Deus de amores (coro idem)
A estrela nos guiou
Ao berço do Redentor (bis)
Na cidade da Judéia.
Ai, ai, ai, ai (coro de todos)
O nosso amor (coro idem)”
Regina Lacerda, em seu folclore brasileiro – Ministério da Educação e Cultura, 1977 – registrou:
“Senhor dono da casa
Abre a porta, acende a luz.
Recebei os Santos Reis
E o Coração de Jesus.”
E José Aparecido Teixeira, em seu Folclore goiano; cancioneiro, lendas, superstições, estes:
“Ó di casa, ó di fora
Qui hora tão excelente
É o glorioso santo Reis
Que é vem do oriente
Ó de casa, ó de casa
Alegra esse moradô
Que o glorioso santo Reis
Na sua porta chegô…”
As folias que se realizam nas cidades são chamadas de Folias de Reis de Música, e são noturnas, – os participantes acompanham a estrela que guiou os Reis Magos até a manjedoura onde estava Jesus – começando após as 22 horas, quando visitam diversas casas, e terminando ao amanhecer. Seu período vai até dia 2 de fevereiro, dia de Nossa Senhora das Candeias, ou Candelárias, quando os presépios são desmontados.
As folias que se realizam nas roças são chamadas de Folias de Reis de Caixa e percorrem os sítios, fazendas ou casas de colonos que as acolhem com grande alegria e oferecem comidas e bebidas ao grupo. Diz a lenda que quem recebe esses foliões é abençoado, o que vale dizer que está em graça com Deus.
Os instrumentos das folias são a viola, a sanfona, o xiquexique, o cavaquinho, o violão, etc., e, para marcar o ritmo, a caixa. Todos são enfeitados com fitas coloridas que, em geral, combinam com as roupas dos participantes.
Câmara Cascudo registra: “Da véspera do Natal (24 de dezembro) até Candelária (2 de fevereiro) a folia de Reis, representando os próprios Reis Magos, sai angariando auxílios…. Com violões, cavaquinho, pandeiro, pistão e tantã cantam à porta das casas, despertando os moradores, recebendo esmolas, servindo-se de café ou de pequena refeição. O chefe do grupo é o alferes da folia de Reis. Feita a festa, a 6 de janeiro (Santos Reis Magos), realizam uma ceia no dia de Nossa Senhora das Candeias, ou Candelárias, 2 de fevereiro…”
Mestre Cascudo, na fonte por nós pesquisada, não fala da viola, instrumento precioso que vimos em todas as folias que assistimos no interior de Minas, mas outros estudiosos afirmam que a Folia de Reis Mineira tem mais participantes e mais instrumento, talvez seja este o motivo.
Regina Lacerda, no livro já citado, nos esclarece:
“Recebida a bandeira, o chefe da família oferece-a a todos para ser beijada e com ela percorre todos os cômodos da casa para que sejam abençoados, colocando-a, depois, em lugar de destaque para a veneração. Diante dela são cantados os “benditos” e outras orações da devoção. A visita é, porém uma festa. E nos “pousos”, a festa é maior. Além da fartura dos comes e bebes, se divertem tantos os foliões que não desejam repousar um pouco como os convidados e os “cata-pousos”. O “cata-pouso” é uma figura estranha, nem folião, nem convidado. Anda sempre atrás de uma folia ou de um “pouso” para comer e beber à vontade.”
Mas não vamos nos alongar. A folia de Reis é mais uma manifestação da alegria e da devoção de nossa brava gente brasileira e queremos nos despedir com estes versos, recolhidos por José Aparecido Teixeira (1º verso) e Maria Eremita de Souza (2º verso):
“A Bandeira vai se embora
Vai pedir Nosso Senhor
Que lhe dê graça em vida
Ai, ai, ai, ai
Pra cantar em seu louvor
Ó em seu louvor”
“A Bandeira vai se embora
Vai pedir Nosso Senhor
Que lhe dê graça em vida
Ai, ai, ai, ai
Pra cantar em seu louvor
Ó em seu louvor”
“A Bandeira vai se embora
Vai pedir Nosso Senhor
Que lhe dê graça em vida
Ai, ai, ai, ai
Pra cantar em seu louvor
Ó em seu louvor”
“A Bandeira vai se embora
Vai pedir Nosso Senhor
Que lhe dê graça em vida
Ai, ai, ai, ai
Pra cantar em seu louvor
Ó em seu louvor”
“A Bandeira vai se embora
Vai pedir Nosso Senhor
Que lhe dê graça em vida
Ai, ai, ai, ai
Pra cantar em seu louvor
Ó em seu louvor”
Autor: Yassír Chediak