Viola Caipira e o indizível da brasilidade!

“Daimon”, em grego, é espírito, ser sem materialidade, aquilo que se sente, mas não se pode provar pela ?Empeiria? que é a experiência material vivida fisicamente, pessoalmente. Modernamente dizemos empiricamente, que é aquilo que pode ser provado, quantificado, atestado.

Quando o Cristianismo foi trazido para o Ocidente Romano, muitas das formas de dizer do ?indizível? que os povos orientais cultuavam foram literalmente satanizadas. É bom lembrar que a religião de Jesus era oriental, pois afinal nasceu onde hoje é a Palestina.

Então, tudo que era ?Daimon? (imaterial) se tornou ?Demônio?, e na tradição brasileira ?Satanás?, ?Capiroto?, ?Outroqueodiga?, e tantos nomes que são usados nos muitos Sertões de nossa terra.

A viola e os violeiros têm uma ligação forte no imaginário de nossa gente com forças que são perceptíveis pela intuição, mas que não são muito fáceis de serem explicadas e quantificadas por métodos científicos. Assim proliferam os ?causos? de violeiros que fazem pactos com o que, de forma geral, as pessoas chamam de ?Demônio? (olha ele aí, de novo).

Esta ligação da musicalidade reconhecidamente transcendente da viola com imagens mentais que todos temos, é material riquíssimo pra construção (que acontece o tempo todo em todos os rincões de nossa terra) da identidade cultural brasileira.

A Cia. Mambembrincantes tem feito viagens pelo interior do Brasil, e em nossos espetáculos apresentamos fundamentalmente músicas de nossa própria autoria (portanto desconhecidas do grande público), sempre com a marca de instrumentos tradicionais brasileiros: A Viola (soberana e majestosa), o Cavaquinho (que na minha compreensão é também Viola), Rabeca e Percussão tradional (Pandeiro, Zabumba, etc.).

Quando chegamos nas cidades, as autoridades e jornalistas que nos recebem se espantam com a ?recepção? das músicas por parte do público, que percebem durante o espetáculo. Quando me perguntam sobre a razão desta acolhida, sempre me lembro das palavras de uma moça em Sinop ? MT: ?Parece que eu conhecia a música, mas não sei de onde?.

Dessa forma, em minha compreensão, a Cultura Brasileira nasce da mão da viola, do braço da viola, mesmo quando tocamos em outros instrumentos, mesmo quando antropafagicamente nos alimentamos de outras expressões culturais do planeta (como o Rock, o Blues, a Música Erudita), mesmo quando tocamos canções que antes não era comum tocar.

É assim com a Viola, com os toques da Viola que nos ligam ao que sentimos, mas não sabemos de onde ou por onde. Ela é uma expressão muito forte e particular do que nos é muito presente, mas não tem materialidade. É como se fosse a liberdade, do que diz o Leonardo Boff: ?É uma coisa que todo mundo sabe o que é, mas ninguém sabe explicar?. Ela explica o inexplicável, traduz o intraduzível. E por isso, nos liga ao imaterial coletivo de todo o mundo, e nos conduz para a construção do ?Caldo Cultural Brasileiro?.

Viva a Viola que nos constrói como povo.

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