Violas e Causos Bob Vieira

Bob Vieira: um guardião da cultura caipira

Em breve os leitores serão presenteados com mais um livro destinado ao público infantil e escolar, trata-se de “Rimas e Violas”, de Bob Vieira. O livro que vem acompanhado com um CD, dá continuidade a uma dedicada pesquisa do autor sobre as possibilidades da rima e as nossas raízes folclóricas. O trabalho foi contemplado com recursos lei Aldir Blanc e prevê uma tiragem de dois mil exemplares, boa parte deste material será distribuído para as escolas municipais de Itapetininga.

Em “Rimas e Violas” o leitor irá encontrar algumas republicações como “Quem Eu Conheço”, muito solicitada nas apresentações escolares, e muito material inédito, como a continuidade da rima “Futebol dos Bichos”. “A partida havia sido paralisada por causa do gambá, resolvi continuar a partida nesse novo livro, pois a criançada se diverte muito”, diz.

O autor comenta que sua forma de trabalhar com rimas surge a partir dos temas. “Por exemplo, penso em automóveis, a Belina (carro da marca Ford) rima com tubaína e aí vou desenvolvendo meu trabalho. Experimentando as palavras, como se fossem brinquedos de encaixar e formando sentidos diferentes, imagens surrealistas, frases surpreendentes. Dessa forma, improvisando, alimento à imaginação e enriqueço vocabulários”, comenta.

A ideia de lançar um livro com as suas rimas surgiu há 15 anos mais ou menos. Bob sempre era convidado nas escolas para avivar nos alunos o gosto pelas tradições populares. Sensível, ele percebeu que o trabalho não vinha despertando o interesse esperado, então começou a apresentar rimas variando as temáticas. Os alunos adoraram e após a apresentação, pediam as professoras que contassem novas rimas. “As professoras me pediam cópias do meu trabalho para desenvolverem em sala de aula. Daí surgiu a ideia de produzir o livro ‘Brincadeiras com Rimas’”, conta.
O novo trabalho conta novamente com as ilustrações do amigo e parceiro, João Jorge Cardoso, o popular Zega. “Conheço o Zega quando tínhamos 10 anos. Ele sempre se interessou pela arte, descobrimos muitas coisas juntos. O Zega sempre gostou de compor músicas, fazer charges e caricaturas de alunos e professores. Temos uma amizade de quase 50 anos, uma sintonia muito boa, quando penso em algo, ele consegue captar imageticamente de forma quase instantânea”, elogia o amigo.

A Carreira – Na adolescência Bob Vieira ficou muito impactado com “Minas”, sétimo álbum do cantor e compositor Milton Nascimento, lançado em 1975. “Conheci esse álbum com 13, 14 anos. As irmãs do Zega cursavam a faculdade em São Paulo e traziam as novidades musicais. Fagner, Zé Ramalho e tantos outros. ‘Minas’ elas gravaram em uma fita K7 e me deram. Não parava de ouvir. Fiquei encantado”, lembra. “Minas” produzido por Ronaldo Bastos com direção musical de Wagner Tiso, é um dos trabalhos mais complexos de Milton, o popular Bituca. “Fé Cega, Faca Amolada”, “Ponta de Areia”, fazem parte do álbum. Outra influência de Bob foi o álbum “Clube da Esquina”, produzido entre 1971 e 1972.

Autodidata aprendeu a tocar violão, depois de participar de um festival de Música Popular no Clube Venâncio Ayres, no qual ficou em terceiro lugar com um reggae (muito em voga na década de 1980), resolveu estudar violão no Conservatório de Tatuí. Porém, seu interesse pela música caipira ocorreu quando estava participando de um festival na cidade de Ponta Grossa. “Um casal estava tocando viola. Fiquei fascinado e fui conversar com a dupla. Eles me falaram para eu tocar as coisas da minha região, do meu lugar, aquilo mudou minha vida”, conta. De volta a Itapetininga, pesquisou sobre o fandango, a catira, o cururu. Em uma entrevista a Cristina de Lobo Cardoso afirmou que aos 20 anos abandonou o violão e dedicou-se a aprender e a pesquisar a viola caipira, instrumento de 10 cordas muito presente nas manifestações culturais da região tropeira.

Em 1989, ao participar ao lado da amiga Kátia Baroni, de um festival de música em São Miguel Arcanjo, sua cidade natal, conheceu Arrigo Barnabé que estava no júri. Arrigo o convidou para participar da revista musical “A Estrambótica Aventura da Música Caipira”, inspirada no trabalho do folclorista Cornélio Pires (1884–1958) sobre a cultura caipira. O título da peça uma homenagem ao livro “As Estrambóticas Aventuras de Joaquim – Queima Campo”, de Cornélio publicado em 1924. No elenco Adilson Barros (ator de “Marvada Carne”), Eduardo Coutinho, Pena Branca, Xavantinho, Laert, Wandi Doratiotto, Ranchinho, Bob Vieira (creditado como Luiz Antônio Vieira, seu verdadeiro nome), entre outros. A estreia do trabalho aconteceu em junho de 1990 no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo e percorreu 20 cidades. O espetáculo na íntegra, com direção de Carlos Alberto Soffedini, pode ser conferido no canal Youtube (youtu.be/SwHZJD4Ss3w).
Inquieto, na área teatral, Bob Vieira participou como ator sob a regência do lendário Antunes Filho (1929–2019) nos ensaios de “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, em 1985. “Fiquei uns 8 meses no Centro de Pesquisas Teatrais. Aprendi muito com Antunes Filho, sou muito grato pelo aprendizado do velho mestre”, conta. Em Itapetininga participou da montagem “Senhora dos Afogados”, dirigida por Joao Carlos Luz, como músico e cantor, ao lado de Breno Ruiz e Leila Santos.

Para o artista “a vida é uma enxurrada que vai levando a gente”. Desenvolvendo vários projetos que buscavam o resgate e a preservação da cultura popular, na década de 1990, ele e o amigo José Cláudio “Batatinha” conheceram Edison de Abreu Souza, o Poeta do Monte Santo. A dupla teve acesso ao rico acervo do poeta popular com mais de 100 poesias que ele recitava no ônibus e nas ruas de Itapetininga. “Foi em 1996, que eu e o Batatinha selecionamos várias poesias, corremos atrás de patrocínio e publicamos uma coletânea”, revela. Segundo Bob, o Poeta passou a ser convidado por várias escolas da cidade, onde vendia seus livros. “Tempos depois publicamos o segundo volume”, e completa: “Ficava fascinado como ele envolvia as crianças com seus poemas. Foi ele, sem dúvida, que me inspirou a se apresentar nas escolas, tocando viola, cantando e contando causos pra criançada”, revela.

Futuro – Com o lançamento do livro “Rimas e Violas”, Bob Vieira pretende fazer uma série de lives divulgando o trabalho e visitar as escolas. Ele ainda está negociando lojas físicas onde o livro possa ser adquirido, mas se o leitor tiver interesse basta mandar uma mensagem, via WhatsApp e o autor encaminha pelos Correios.
No bate-papo com esse jornal, Bob Vieira revela que desde o início da pandemia, vem se dedicando ao estudo das infinitas possibilidades da viola. “Acredito que toquei mais nesse período do que em todos os anos de minha vida”, reflete. Segundo o artista, atualmente ele vem dedicando em torno de 5 horas por dia. Todo esse estudo, ele espera em breve compartilhar com o público através do lançamento de um disco com músicas da viola instrumental. O projeto já possui um nome bem sugestivo. “Como artista preciso compartilhar com as pessoas a evolução do meu trabalho”, finaliza.

Fonte: Jornal Correio de Itapetininga – autor Milton Cardoso

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