Tião Carreiro – Gigante do Brasil – Braz Chediak

Quando Villa Lobos falou: “Sim, sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música eu deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil. Eu não ponho mordaça na exuberância tropical de nossas florestas e dos nossos céus, que eu transponho institivamente para tudo que escrevo”, parece que ele estava pensando em Tião Carreiro. De fato, este brasileiro que, junto com ele, Vila Lobos, e Tom Jobim, forma o trio dos grandes criadores da MÚSICA  RASILEIRA  com cheiro de mato, também não amordaçou a exuberância do cantar de sua terra. Uma terra de onde vem o som de um TRENZINHO DO CAIPIRA, de um MATITA PERE, a genial composição de Tom, e de dezenas, centenas de músicas de TIÃO CARREIRO, o gênio da viola, artista maior desse Brasil magnífico, berço de tantos artistas geniais. Tião Carreiro nasceu em 13 de dezembro de 1934, em Monte Azul, região da musical cidade de Montes Claros, foi  criado numa fazenda em Valparaíso/SP, e , mais tarde foi para Araçatuba, interior de São Paulo.

Aos 8 anos já tinha intimidade com o violão. Aos 16 , como “Palmeirinha”, se apresenta na cidade em dupla com Coqueirinho. Em seguida, mudando seu nome mais uma vez, junto com seu primo Valdomiro forma a dupla Zezinho e Lenço Verde. Um início comum para um violeiro incomum. Um começo como tantos outros,  para um violeiro que se destacou de todos os outros. Em matéria para o site violacaipira.com.br, com o título Tião Carreiro “ O deus carrancudo” escrevi que em seu livro, música caipira da Roça ao Rodeio publicada pela Editora 34, Rosa Nepomuceno diz que: “Numa terra de tantos bons violeiros, ele foi o melhor, o mais famoso, o que deixou mais admiradores, o que nunca foi esquecido.

A viola vibrante de Tião Carreiro (13/12/1934 – 15/10/1993) eletrizou o público nas festas do interior, nas rodas que se formaram à volta desse tocador generoso e incansável. Na rádio, no alto-falante das praças, nos aparelhos de som, rodaram seus 28 disos de 78 rpm e os 57  compactos e Lps . Fiel e entusiasmado como a torcida do seu time , o Corinthians, o “Deus Carrancudo”, como foi chamado pelos íntimos, não era mesmo dado a sorrisos fáceis, mas gostava de ambientes informais e alegres, onde pudesse tocar sem ter hora para parar .”Em sua longa carreira, Tião teve diversos parceiros e, também, diversos nomes artísticos, como : Zézinho, que fez dupla com Lenço Verde, Palmeirinha, em dupla com Coqueirinho(aliás Lenço Verde e Coqueirinho eram a mesma pessoa: Valdomiro, um primo de Tião) Zé Mineiro com Tietezinho.Foi Teddy Vieira, então diretor do departamento sertanejo da Columbia quem, em 1958, deu a José Dias Núnes o pseudônimo de Tião Carreiro para que ele substituísse Zé Carreiro na dupla com Carreirinho (Adauto Ezequiel)Tião Carreiro e Carreirinho gravaram sucessos como O beijo (Carreirinho), Saudade de Araraquara (Zé Carreiro) e o inesquecível O Rei do Gado (Teddy Vieira), mas quem mais o completou o grande violeiro Pardinho, (Antonio Henrique de Lima, nascido em São Carlos em 14 de agosto de 1932). Mestre no violão, Pardinho deu como nenhum outro , a base perfeita para os solos da viola de Tião. E com ele conheceu o sucesso com Cavaleiros do Bom Jesus(João Alves, Nhô Silva e Teddy Vieira), e a partir dai essa parceria formou uma das mais ricas fontes de nossa música raíz. No final da década de 60 e na década de 70 a popularidade dos dois era imensa e foram considerados o maior fenômeno da música raíz. Seus shows lotavam Circos, Cinemas e Teatros. E , coisa frequente, eram obrigados a dar dois, três espetáculos seguidos, para que todos pudessem vê-los e ouvi-los. Participaram do filme (Sertao em Festa)direção de Oswaldo de Oliveira – 1972 – grande sucesso de bilheteria e lançado em vídeo em 1980, onde interpretam Caboclinha Malvada(Serrinha), Em tempo de Avanço (Lourival dos Santos e Tião Carreiro), Jerimu(Arlindo Pinto), Mestre Carreiro (Raul Torres), Oi, vida minha (Cornélio Pires) e Pagode(Tião Carreiro e Carreirinho).Apresentavam-se em muitos programas de TV e em quase todas as cidades de São Paulo, Minas, Goiás, Paraná, Mato Grosso, etc. O Brasil inteiro conhecia e cantava com TIÃO CARREIRO E PARDINHO. Mas, mesmo com o sucesso , por diversas vezes os dois se separaram. E, como conta sua esposa, Dona Nair, Tião sempre entristecia quando o Pardinho o deixava, quase sempre pelos mesmos motivos, Tião era boêmio, Pardinho metódico.

No estúdio, Tião só se decidia na hora o que gravaria, o que irritava o Pardinho. Mas felizmente as desavenças não prejudicaram o produto final: a obra de arte acabada e pronta. E quem não se recorda dos dois em “Rio de Lágrimas”, de Tião , Piraci e Lourival dos Santos, que se transformou num dos maiores clássicos do nosso cancioneiro. Tião Carreiro foi também um inovador, criando o Pagode. Em 1996 , a Continental homenageou Tião com um disco-tributo Saudades de Tião Carreiro, com músicas suas interpretadas por Sérgio Reis, Zezé  Di Camargo e Luciano, Irmãs Galvão, Almir Sater, Chitãozinho e Xororó, etc, Comecei dizendo que parecia que Villa-Lobos estava pensando em Tião Carreiro quando disse: “Sim, sou brasileiro e bem brasileiro. Na minha música deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil. Eu não ponho mordaça na exuberância tropical de nossas flores e dos nossos céus, que eu transponho instintivamente para tudo que escrevo.” E parece que Tião Carreiro pensava em Villa-Lobos quando, em sua música encantada, ele deixava chorar, cantar, brincar este grande país chamado Brasil.

 

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